24/02/2011

“Revolução dos bichos” de George Orwell


Resumo

Através do livro de George Orwell, realizamos uma crítica ao sistema de governo Brasileiro, mostrando que todas as revoluções, dos bichos os dos seres humanos, se dão através de esforços e conquistas da população. O problema é que quando os revolucionários chegam ao poder, deixam de pensar no conjunto e passam a se preocupar individualmente com seus problemas, fazendo somente o que lhes é conveniente e deixando-se tomar conta pelo poder e pela corrupção.

Palavras-chave


Poder; luta; revolução; conflitos; crise.


Introdução


Pensamos que todas as revoluções ocorrem através de reações populares, muitas vezes de maneira suja e violenta. Mas geralmente, elas se iniciam através de revoltas organizadas e manifestações espontâneas, que não necessitam quebrar trens e ônibus em protesto às suas condições e desejos. No Brasil contemporâneo, as revoluções são marcadas por grandes conflitos, sem grande violência, mas com grandes conseqüências e sofrimentos para o nosso povo.

Desde a Ditadura Militar até o Governo Lula, o Brasil tem passado por diversas revoluções. Tentaremos criar um paralelo entre a História do Brasil Contemporâneo e o livro de George Orwell, A Revolução dos Bichos, para mostrar que em todas as revoluções existem pessoas de boa índole, que buscam o bem de seu povo e o melhor para sua nação, como também pessoas que buscam apenas desfrutar dos benefícios trazidos pelas conquistas ocasionadas por uma revolução.

A Revolução segundo George Orwell


Numa alusão a corrupção do poder na União Soviética, George Orwell narra a estória de um acontecimento ocorrido na “granja solar”, (Willingdon-Inglaterra). A granja era administrada pelo Sr. Jones, que se encontrava decadente e entregue as bebidas. Esse homem beberrão explorava seus animais de maneira cruel e desumana, deixando-os muitas vezes sem comida. Sob o comando de um velho porco, conhecido como Major, os bichos começaram a se organizar em busca de liberdade e igualdade. A liderança dessa revolução foi assumida pela classe intelectual representada pelos porcos, com o apoio dos demais animais.

O Sr. Jones mata Major acidentalmente no celeiro durante uma reunião onde os animais discutiam seu plano de liberdade, e, sem querer, os bichos deflagram a revolução, graças a revolta causada pela trágica morte de seu líder e em respeito a memória dele, expulsam os proprietários da fazenda.

Em posse da fazenda, os bichos começaram a controlar o lugar, buscando uma sociedade onde todos seriam iguais, sem diferenças sociais e sem exploração do trabalho. Colocaram, então, em prática, as velhas idéias de Major, conseguindo fazer o que antes para eles era impossível. Foi uma espécie de realização coletiva, todos se encontravam felizes, até que surgiram as divergências.

A maioria queria manter a pureza dos ideais de Major, mas alguns começaram a sentir o doce sabor do poder e da corrupção. Os novos dirigentes começaram a voltar as práticas dos dirigentes anteriores, mudaram as leis em seu próprio benefício, deturparam a interpretação dos fatos, buscaram proteção para si mesmos e ameaçavam, expulsavam ou condenavam a morte todos aqueles que não obedeciam ou ameaçavam a estabilidade do poder.

A comunidade ficou insatisfeita, e o governo instaurou um meio de distração e entretenimento, através da televisão, com projeções de filmes e instrumentos de propagandas que enalteciam o regime de governo e seus líderes, mostrando os benefícios que o governo estava trazendo para aquela sociedade.

Muitos animais se revoltaram e se refugiaram aguardando o fim da opressão, mas muitos aceitaram defender seus opressores. Os novos líderes conseguiram destruir os ideais dos bichos, fazendo com que as gerações futuras desconhecessem a importância da Revolução e da época feliz que a granja viveu, deixando que acontecesse apenas uma “substituição” dos opressores, que ninguém imaginava ser alguns dos próprios animais.

Uma revolução humana


Eric Arthur Blair, conhecido como George Orwell, era socialista e se baseou na história de sua vida para escrever “A Revolução dos Bichos”, mostrando através de uma fábula, o que sistemas imperialistas, capitalistas ou comunistas traziam à população principalmente àqueles de menor capacidade econômica ou de menor capacidade intelectual, que quanto mais trabalham, mais pobres e famintos ficam. Ele faz uma crítica aos Estados totalitários, em especial ao regime soviético, que influenciou vários países, como Cuba, China, Vietnã e Coréia do Norte. Denuncia também poder ilimitado, centralizado na mão de apenas um grupo, pode ser deturpado e desviado de sua proposta inicial, que seria o bem estar da comunidade.
Nos mostra, através de exemplos simples, que aqueles que estão no poder manipulam palavras e declarações, modificam leis e fazem sua vontade prevalecer, mesmo que através da força ou do medo, sempre objetivando aumentar seu poder e usufruir de seus benefícios.

Através desta obra também expôs a insatisfação da classe operária inglesa, que por vota de 1930 se via acossada por desigualdades sociais e econômicas. Mostra passo a passo à lenta agonia de um movimento democrático que, passo a passo, caminha para seu trágico final, que foi transformar-se em uma ditadura, com problemas iguais ou piores dos que existiam antes da revolução. Além de tudo, a obra permanece como uma advertência àqueles que tencionam tomar o poder, mas não estão preparados para isso, ou o pretendem com os mesmos objetivos do porco Napoleão, que sem muita dificuldade, pode ser comparado, metaforicamente, com muitos governantes.

A História Comprova


O livro de Orwell é uma alegoria aos países que viveram ou vivem em regime de opressão, governados por tiranos, usando especificamente a União Soviética no comando de Josef Stalin. Stalin foi de origem simples, filho de sapateiro, que juntamente com o povo viveu toda a opressão e tirania dos governantes anteriores, ajudou a organizar a revolução, e, quando assumiu o poder se corrompeu se tornando pior que os tiranos que ele próprio combateu.

A sociedade humana quando oprimida se organiza e luta contra a opressão em busca de igualdade, liberdade, justiça e paz social. A história tem mostrado que o sucesso só é alcançado com a luta, com derramamento de sangue, com a revolução. Foi assim com os povos antigos, na Idade Média tivemos inúmeras revoluções e na atualidade os noticiários mostram constantemente o povo lutando contra os opressores.
Geralmente, as pessoas que lideram esses movimentos, em sua maioria, quando assumem o poder se corrompem, e usam as mesmas práticas que os opressores, tornando até piores que os tiranos que eles tanto combateram. Parece comum na história humana que aqueles que chegam ao poder adquiram sempre os mesmos vícios e se deixam levar pelas mesmas vaidades.

Depois disso, não foi difícil de estranhar que, no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas. Nem estranhou-se saber que os porcos haviam comprado um aparelho de rádio, que estavam tratando da instalação de um telefone e da assinatura de jornais e revistas. Não estranharam quando Napoleão foi visto passeando nos jardins da casa com um cachimbo na boca – não, nem quando os porcos se assenhorearam das roupas do Sr. Jones e passaram a usá-las... (Orwell, 2003, pág. 112).

Os ciclos se repetem, apenas o momento é outro; novamente o povo insatisfeito, começa a se organizar em busca de igualdade, liberdade, justiça e paz social. O homem insiste no discurso de igualdade, luta por uma sociedade com uma distribuição de renda mais justa, deseja a aplicação de uma justiça mais distributiva e persegue a qualquer custo a sua liberdade. Infelizmente, na prática, o que a maioria quer é tirar proveito em beneficio próprio, utilizando a população como ponte para sua auto realização.

A Nossa Revolução


No Brasil, o ano de 1985 teve um papel importantíssimo em nossa recente história. Ele foi o ano da restauração da ordem institucional. Desde o golpe de 1964, a sociedade brasileira se transformou e trouxe novos rumos ao capitalismo no Brasil. Nesse período o Estado teve uma crescente participação na Economia e ampliaram-se as atribuições do Executivo em detrimento dos outros poderes. Com a interdependência entre os poderes político e econômico a crise de um reflete em crise no outro.

Em 1974 instala-se uma crise no país devido ao quadro de recessão internacional combinado com a exaustão da classe trabalhadora vítima de anos de arrocho salarial. As disputas partidárias, as greves, a inflação foram elementos importantes para o golpe militar. Na Revolução dos Bichos, uma situação parecida aconteceu na granja do Sr. Jones: E isso trouxe a revolução!

Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo alimento necessário para continuar respirando, e os que põem trabalhar são exigidos ate a ultima parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. (Orwell, 2003, pág.10).

A industrialização surgiu do conflito entre o setor urbano-industrial e o setor agroexportador. A conservação da produção agroexportadora era uma das condições para a industrialização. O fortalecimento da indústria traria vantagens para o setor agroexportador pois facilitaria o escoamento da produção ao construir e modernizar as vias de acesso, o sistema de transportes e de comunicações. O povo brasileiro dava início a sua revolução, que se deu lentamente. Entre disputas políticas dentro dos diversos segmentos do capital, tinham origem no processo de concentração de capitais e de internacionalização da economia.

Criaram-se os partidos políticos e então surgiram as frentes partidárias mais do que partidos imediatamente representativos.

Os anos de 1961 a 1964 caracterizaram-se por grande mobilização popular. A expressão partidária centrada nas reformas de base, principalmente a reforma agrária. E a luta antiimperialista e as reformas de base agitavam o período. Uniam-se udenistas e militares tentando um alinhamento com os EUA sem restrições ao capital estrangeiro.
Com a nova política trabalhista, o governo procurava evitar possíveis mobilizações. Extingui-se o direito de greve, regulamentou o acesso aos sindicatos e procurou trazer os trabalhadores para dentro desse "novo sindicato” oferecendo vantagens para os sindicalizados. O Estado reestruturou a previdência Social, pois assim podia reter os recursos representados pelo imposto sindical. Sem seus representantes, os trabalhadores perderam a capacidade de se organizar. Por volta de 1967, surgiram organizações de protesto contra a política de arrocho salarial. A nova política trabalhista e salarial provocou mudanças bruscas na qualidade de vida do trabalhador.

A nova política salarial propiciou também uma maior subordinação dos trabalhadores à fábrica. O fim da estabilidade diminui o poder de pressão do trabalhador, pois este temia a demissão.
O trabalhador tornou-se mais dependente da autoridade patronal, sindical e previdenciária.

Uma nova ideologia burguesa se desenvolvia à sombra das políticas anti-recessivas. Seus representantes transformaram-se numa espécie de vanguarda da burguesia industrial brasileira. Esses empresários de vanguarda, diante da crise do capitalismo criam um projeto de desenvolvimento mais humano e com preocupações sociais.

Até 1981, as medidas de contenção da crise não resultaram no efeito desejado. A economia brasileira vivia uma recessão. Vozes vindas do mundo do trabalho provenientes de uma onda de greves por volta de 1978 só completou o quadro de descontentamentos.

O Brasil estava sem soluções para a recomposição da sua economia, então, ecos conservadores apontam o FMI como saída.

Assim como na granja do Sr. Jones, onde os animais se mobilizaram contra a opressão de seu proprietário, no Brasil os trabalhadores eram Mal remunerados e mal alimentados, a exaustão dos trabalhadores tornava-se clara. Devido à ausência de dispositivos de segurança no trabalho as médias de acidentes eram altíssimas e o que provocava uma intensa comoção social. A reação popular diante as péssimas condições de trabalho vieram de forma violenta. Não eram manifestações organizadas mas revoltas espontâneas que quebravam trens e ônibus em protesto contra suas precárias condições.

A mulher de Jones olhou pela janela do quarto, viu o que ocorria, juntou as pressas alguns haveres numa bolsa de pano e escapuliu da granja por outro caminho. Moisés levantou vôo do poleiro e bateu asas atrás dela, grasnando. A essa altura, os animais haviam posto Jones e os peões para fora da granja, fechando atrás deles a porteira de cinco barras. (Orwell, 2003,pág. 21).

Com o surgimento das favelas e a ampliação das já existentes as associações de moradores aparecem como alternativas de participação popular e simbolizam uma necessidade de autonomia perante o Estado.

Diante dos controles impostos era evidente a incapacidade dos trabalhadores para alicerçar-se no movimento social porém, os mais importantes sindicatos da grande São Paulo e seus dirigentes resolveram enfrentar o governo na justiça.Isso trouxe o fortalecimento do movimento operário nos próprios locais de trabalho.

Esse novo sindicalismo além de expressar as reivindicações de cidadania política do operariado trouxe à tona questões importantes para o seu desenvolvimento. Uma onda de greves marcou os anos de 1978 a 1979 e emergência desse novo movimento operário indicava a necessidade de mudança na institucionalidade sindical.

Mais que uma sátira


Bola de Neve voltou pronto a liderar uma outra revolução dos bichos. Atualmente, o Governo Lula nos lembra a revolução dos bichos de George Orwell, e uma revolução que já conhecemos o final. A parábola de Orwell que nos trazia porcos letrados, que lutavam para libertar seus “companheiros” da tirania do comando do Sr. Jones. Antes, eles pregavam a libertação e a igualdade entre os animais, porém, logo que assumiram o poder, se apropriaram de todos os benefícios antes impiedosamente criticados, e também eram mestre na arte da propaganda e dominação do poder.

O Governo Lula possui alguns méritos, mas é muito incompetente na administração da granja. Poderiam empregar melhor o dinheiro público, mas prefere alimentar a roubalheira. O dinheiro poderia ser empregue no pagamento da dívida pública, mas se prefere alimentar a população miserável diretamente, porém, em termos, pois sempre é descoberto que as pessoas erradas são as beneficiadas. Tomemos por exemplo o escândalo do Programa Bolsa Família. Pessoas que não necessitavam desta espécie de “esmola do governo” a recebiam sem o menor constrangimento. Até mesmo os funcionários responsáveis pela distribuição da “esmola” a recebiam.

Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco. (Orwell, 2003, pág. 117).

O governo deveria sim, se preocupar em diminuir as taxas de juros, pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional, favorecer os investimentos produtivos. Isso geraria empregos. Isso tornaria a população miserável menos miserável. Mas até que ponto seria vantajoso investir no bem estar da população, na educação, na saúde. Pois essa nova população, menos miserável, com mais conhecimentos se tornaria ameaçadora ao poder. Ela tentaria trazer de volta a revolução dos bichos.

Este mesmo governo que antes conhecia todos os problemas dos trabalhadores, promovia greves, apoiava novos ideais, agora é teto de vidro. Quando os porcos chegam ao poder, eles se corrompem, e passam a andar como homens... Eles começam a se vestir como homens. Começam a beber, a fumar e a jogar cartas. Começam a negociar com o inimigo. Até o dia em que fica impossível distinguir quem é homem, quem é porco.
Não acreditava que ainda restassem quaisquer das velhas suspeitas, mas certas modificações na rotina da granja haviam sido introduzidas com o fito de promover uma confiança ainda maior. Até aquela momento os bichos haviam conservado o ato imbecil de se dirigir uns aos outros pelo vocativo de “Camarada”. Isso ia acabar. (Orwell, 2003, pág. 116).

Conclusão


Podemos compreender a utopia de Orwell, através da Revolução dos Bichos, representando a sociedade como uma organização, onde, os que estão no poder, usufruem deste de maneira deliberada, enquanto os que estão de fora lutam de forma tola e inocente em busca da quebra do poder autoritário e opressor. É claro que dentre estes, existem uns mais espertos, que se infiltram entre os humildes, e, conseguem chegar ao poder.

Mas quando estes mudam de lugar com o governo, logo se deixam levar pelos benefícios trazidos por esse lugar, se deixam corromper, se deixam tomar pela ganância de mais poder e mais benefícios.

As oposições se formam dentro das crises, dentro das ditaduras ou dentro das guerras. E ainda, estas contribuem para conduzia a humanidade a um futuro de liberdade e de democracia. Porem, quem nos garante, que, as novas revoluções, que surgirem a partir de nós, serão bem sucedidas? Ou serão, da mesma forma que as anteriores, superficiais, trazendo apenas as mudanças de dirigentes, e mudando apenas o destino de classes ou partidos políticos?

Concluímos que não é a troca sociológica do poder e de seus detentores que constitui a emancipação, e sim a sua superação da forma social. O Brasil se tornou uma grande fazenda e é indiferente se ela é governada pelo Sr, Jones ou pelo porco Napoleão. Os comandantes são subjetivos. O que nos importa é a finalidade da organização.

Podemos nos reconhecer como os animais dentro da Revolução dos Bichos, como prisioneiros, fazendo com que a parábola de Orwell se torne uma inocente estória.

Referências Bibliográficas


COTRIN, Gilberto. Historia do Brasil. São Paulo, Saraiva, 1999.
FOLHA DE SÃO PAULO. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0106200310.htm
ORWELL George. A Revolução dos Bichos. São Paulo, 2ª Edição, Editora Globo, 2003.

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