07/11/2011

Pensamento Humano / Todos os Períodos

Recapitulação até os dias atuais:
IDADE ANTIGA (séc VII a.C.): Desprovido de outros rescursos para interpretar certos eventos, o homem interpretava o mundo que o cercava através de histórias que apresentassem uma resposta para os eventos observados. Tratam-se dos mitos, que são histórias criadas sobre certas situações ou fenômenos quando para ele não são encontradas explicações. Envolviam deuses de características humanas e sentimentos que os humanos teriam que suportar ou desfrutar. Começam a ver a natureza e as relações humanas de uma forma mais realista e reflexiva.
O grande passo, no entanto, foi dado no século V pelos sofistas. O sofismo foi uma orientação genérica, onde seus princípios se baseavam: no conhecimento que devia se concentrar nos problemas do homem, "O homem é a medida de todas as coisas" Protágoras; e o relativismo das noções de verdade, justiça, bondade e moral.
O grande instrumento dos sofistas para defender seus argumentos era a retórica (arte de bem falar). Por isso, que foram importantes para a sistematização do estudo, pois viviam como "professores". Na verdade, orientavam discípulos de suas teorias, que influenciariam todo o pensamento racionalista ocidental.
Filósofos:
Sócrates "Só sei que nada sei". Resume a sua forma de encarar o conhecimento como investigação permante.
Evidencia a busca contínua, marcada por uma profunda desordem interior.
Platão - discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas. Para ele existiam noções e idéias perfeitas que dirigiam todas as coisas do universo, inatingíveis para a maioria dos homens mas que deveria ser buscadas pelos filósofos.
A crença por um destino predestinado é marcada pela aceitação da inferioridade humana, que encontra-se submissa, pois sua vida não é moldável, apenas adaptável a uma vida já estabelecida por um ser infinitamente superior. E esta adaptação seria justamente a busca do filósofo, que são homens dotados de um poder de interpretação maior que o dos homens comuns. Por isso, Platão cria uma Academia de filósofos, para limitar a atuação dos demais.
Aristóteles - discípulo de Platão; observou que a natureza está em constante movimento (nascimento, transformação, destruição). Acreditava que as idéias e a abstração deveriam partir da realidade concreta.
Partidário de uma concepção que surgiria mais a diante: o Racionalismo, onde as verdades para serem aprovadas e aceitas precisam primeiro serem comprovadas a partir de experimentações.
Existiram ainda filósofos das mais diferentes áreas do conhecimento humano: Heródoto (História), Tucídides, Tales (Matemática), Pitágoras, Euclides, Hipócratas (Medicina)....
Heráclito foi um pensador pré-socrático conhecido como "O Obscuro". Afirmava que na vida, todas as coisas, boas e más, devem passar. Como Tales de Mileto, achava que todas as coisas eram feitas de um única e permanente substância, a qual tinha de ser um dos "quatro" elementos (terra, ar, fogo, e água). Tales escolheu a água, Heráclito, o fogo. "O raio dirige todas as coisas". Para ele, o mundo é como uma chama de vela: sempre o mesmo em aparência, mas sempre mudando em substância. Seu exemplo mais famoso desse paradoxo: "Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo...É na mudança que as coisas acham repouso".
Da mesma forma, todo o mundo está em permanente fluxo; a mudança é constante. "Tudo muda exceto a própria mudança". O conceito de razão e lógica, muito aplicado atualmente, nasceu com Heráclito. O mundo não é um caos, por trás do fluxo e do conflito, existe um princípio diretor, uma força organizadora, que ele chamou de logos. Sendo assim, o bem não existe separado do mal; a saúde da doença; a saciedade da fome; ou o descanso do cansaço: eles são os dois lados da moeda metafísica, sucedendo-se em ao outro à medida que a mudança obriga a moeda a girar e girar.
Mas será que a moeda cai de ambos os lados equivalentemente? Ou será que é mais fácil enxergar os problemas de suas "aparentes" e distantes soluções? Talvez a física explique que esta moeda feita de metal, apresente imperfeições que tendem-na cair (por azar ao nosso) para a face indesejável. Ou talvez a nossa sorte esteja relativamente pequena no campo das probabilidades, que teoricamente apresenta-se iguais para os dois lados. O fato, é que tudo existe os dois lados, mas às vezes não enxergamos aquele que se apresenta oculto. Portanto, se há os dois lados, sempre existem soluções (lado bom) para os problemas (lado ruim), basta encontrá-las...talvez estejam perdidas em seu interior. Revire-o, encontre-as!

IDADE MÉDIA
 (séc III): A Igreja Católica ( e seu Deus único) passa a orientar o pensamento e conseqüentemente a forma de ver o mundo do homem (Teocentrismo). A aceitação da vontade de Deus como única verdade.
As pessoas são facilmente manipuladas pela Igreja, que se autodominaria "intermediária de Deus". Um verdadeiro fiel não poderia contestar seus valores empregados, apesar de não possuírem bases para se tornarem afirmações, ou melhor, obrigações. Um claro exemplo disso é a teoria do geocentrismo, na qual a Terra é o centro do universo, ou a crença de que ela era plana e possuia as formas perfeitas porque Deus era um ser perfeito. Hoje sabemos que tais teorias são falsas, porém na época, muitos filósofos precisaram "aceitar" para evitar seu julgamento (Inquisição) pelo Tribunal do Santo Ofício, que condenava hereges e pessoas partidárias de princípios contrários aos da Igreja Católica. Um verdadeiro fiel deveria apenas temer e buscar as bençãos para que sua alma não perecesse no juízo final. Deveriam apenas pagar seus dízimos como uma forma de "garantir" um lugar no paraíso (algo comparado ao Éden) e não no temeroso inferno, mesmo que tenham pecado durante toda a vida.
A Igreja é uma instituição materialista, e que monopolizava grande parte da população. As manisfestações filosóficas mantiveram-se restritas, devido à sua atuação.
O feudalismo desenvolveu-se durante a Idade Média (em seu apogeu), trazendo como uma de suas características fundamentais, o isolamento em feudos auto-suficientes, para se protegerem das constantes invasões bárbaras. Essa descentralização do poder, trouxe como conseqüência a redução do comércio e a ausência de troca de informações. A falta de comunicação, diminui a capacidade de aprendizado e reflexão, deixando as pessoas sujeitas a imposição de qualquer forma de conhecimento.
Durante a Idade Média, a cultura medieval se transformou, acompanhando a dinâmica do feudalismo.
A filosofia patrística (dos padres da Igreja) procurou harmonizar o cristianismo com o mundo clássico. Suas maiores preocupações eram as relações entre a fé a ciência, a natureza Deus e a moral. Santo Agostinho foi sua principal figura. Em sua obra Cidade de Deus; ele diz que existe uma cidade terrestre dirigida pelos homens - "Cidade dos Homens" - obscura, pecadora e corrompida. Nela surge ao poucos a "Cidade de Deus", ideal, pura, construída pelos predestinados, pela graça, onde o homem pecador encontra-se sua salvação.
Nos séculos XI e XII, surgem as escolas das catedrais, que deram características mais urbanas ao ensino. Junto com elas apareceu uma nova maneira de ver e compreender o mundo: a escolástica (de "escola"). Ela procurava dar sustentação teórica à doutrina cristã, esclarecendo-a e buscando levar o homem à compreensão da revelação divina. Pedro Abelardo foi um de seus importantes divulgadores.
São Tomás de Aquino, foi um filósofo escolástico mais influente, que acabou formando uma tendência própria, o tomismo. Baseado no pensamento de Aristóteles, dizia que a razão é um instrumento necessário para entender as verdades divinas e da alma; já a revelação divina tem a função de ampliar esse conhecimento.
A ordem eclesiástica não compõem só um corpo. Em troca, a sociedade está dividida em três ordens: o clero (religiosos), os nobres (guerreiros), os servos (trabalhadores e desgraçados). As três ordens vivem juntas e não podem ser separadas. Os serviços de cada uma dessas ordens permitem os trabalhos das outras duas e cada uma por sua vez presta apoio as demais. Enquanto essa divisão manteve-se a rigor, o mundo ficou em "paz". Mas essa estrutura começou a se debilitar, mudam os costumes dos homens e mudam também a divisão da sociedade.

IDADE MODERNA
 (séc XV): O Homem volta seus pensamentos para si mesmo (Humanismo), uma visão de mundo que se opunha à Idade Média. Consolidou-se com o Renascimento Comercial (surgem 2 importantes pólos comerciais: Cidades Italianas e Flandres) e o Renascimento Urbano (Crescimento das cidades e ascenção da Burguesia ao poder). O surgimento da burguesia foi importante, pois foi ela quem propagou seus ideias que deram início com o desenvolvimento do Capitalismo. O humanismo procurava retomar os princípios greco-romanos, para renascer o conhecimento e as artes.
Origens: As transformações da Europa, resultaram na atualização e dinamização do conhecimento. Houve a introdução à formação educacional dos "Estudos Humanos" (filosofia, retórica, matemática e poesia) que trouxe um progresso e desenvolvimento humano. Percebe-se a preocupação das pessoas pelo entendimento do homem, pois entendendo-se à si, poderá gerenciar melhor os seus negócios, já que conhece seus objetivos.
Os humanistas foram quem divulgaram os estudos humanos, retomando autores, temáticas e princípios da Antiguidade Clássica, e centralizando análises para o mundo concreto dos seres humanos e em sua realidade. As explicações sobre os seres humanos e a natureza deixavam de ser baseadas em Deus, mas sem romper laço com a religião Católica. O humanismo e o naturalismo (antropocentrismo) e a razão (conhecimento científico) moldaram o Renascimento. Há um abandono das explicações baseadas no divino e no sobrenatural (Teocentrismo), surgindo análises racionais para explicar a realidade (verdade testada e experimentada)
Surgiram: filósofos como Nicolau Copérnico (opô-se ao geocentrismo peloa teoria heliocêntrica), Galileu Galilei (verdade experimentada), Kepler, Newton; Poesta como Camões, Miguel de Cervantes, Shakespeare e até pintores como Leonardo da Vinci. Percebe-se que tais pensamentos se manifestaram primeiramente na Europa, para depois expandir-se pelo mundo.
O Iluminismo (séc XVIII) também consolidou a modernidade. Chamado também de "Século das Luzes" (luz que ilumina as trevas da ignorância medieval), despertou uma nova mentalidade e visão de mundo. Associado à ascensão da burguesia, representa a luta por um novo homem e uma nova sociedade.
O conhecimento sobre o homem e a natureza estaria na razão, na verdade científica e na experimentação, e não mais mas explicações teológicas. Essa tendência racionalista colocou esses intelectuais em oposição à Igreja e a Religião.
Filósofos:
René Descartes: estabeleceu a teoria da dúvida metódica, onde se deve duvidar de tudo aquilo para chegar à verdade, e não aceitar somente aquilo que a razão possa compreender e explicar. Mas não podemos por em dúvida a existência humana, pois a própria dúvida comprova sua existência: "Penso, logo existo". Faz uma negação dos sentidos, sonhos, sensações e imaginação, pois estes podem nos enganar, comprometendo o conhecimento seguro.
Bacon: A finalidade da ciência era a de contribuir para o desenvolvimento e melhoria das condições de vida do homem. Utiliza o método indutivo, onde o conhecimento parte de observações (particularidades) nos propondo a verdade ou lei (generalizações).
John Locke: A mente humana é um "papel em branco" que seria preenchido a partir dos primeiros contatos do homem com o mundo exterior. Reprovava a idéia do poder inato de origem divina (base das explicações absoluntistas).
Kant: A razão tem uma dimensão humana, e por isso é incapaz de aprender a essência, ou as coisas como elas realmente são. A razão e a experiência são necessárias para o conhecimento, mas a experiência está subordinada à razão. A razão só é capaz de compreender coisas materiais, criando experiências que as expliquem.

IDADE CONTEMPORÂNEA
 (séc XIX): Finalmente, a era em que vivemos. O que orienta o pensamento em nosso século é a economia, com suas relações de produção de bens e de tecnologia.
A evolução da ciência iniciada na Idade Moderna repercutiu nas várias formas de produzir bens a serem consumidos. O homem passa a orientar seu pensamento, sua forma de ver o mundo, de acordo com a maneira como ele pode ser explorado, gerando recursos econômicos.
Essa obsessão pelo lucro, ganhou destaque na Revolução Industrial (final do século XVIII). O auge do capitalismo foi alcançado, onde o trabalho tornou-se coletivo e repetitivo para aumentar a produção e expandir as relações comerciais. O simples fato de reunir, dividir e sincronizar o movimento em conjunto dos trabalhadores, elevou a produção. Logo, foi notável a substituição dos homens pelas máquinas, que produziam mais em menos tempo, criando uma relação de dependência.
Surge o conceito de globalização. Quando o homem passa a priorizar a produção, a economia, acaba por pensar em determinado momento, numa forma de unificar o mundo em possibilidades de geração e circulação de recursos econômicos. Assim, há uma tentativa de envolver todos os países numa única rede de intercâmbio, formando organizações como a UE, G8 (antigo G7), APEC, MERCOSUL, entre outras. Desse modo, o mundo tende a ser dividido entre aqueles que detém a tecnologia e os que precisam compra-las.
O mundo torna-se um laço quase que familiar de dependência, não somente entre países, e sim entre as pessoas que o compõem. Essa denominação de "país", "nação", nada mais é do que uma delimitação do território apossado por uma comunidade, que apresenta o significado oculto e ignorado de delimitar também o seu poder e as suas áreas de influência.
As pessoas estão subordinadas umas às outras, para que possam evoluir socialmente e economicamente. Talvez essa obsessão de enriquecer seja a causa da ausência do "pensar". Mas não o pensar cotidiano, porque pensar todos pensam para realizar suas atividades. O ato da reflexão é que encontra-se ausente. A reflexão enriquece o pensamento, e a opinião pessoal. Se as pessoas estão sempre a seguir um padrão pré-estabelecido, talvez não haja reflexão nem opinião, apenas uma inconsciente aceitação sem questionamento. É complicado entender, mas as pessoas "deixam" de ser si mesmas.
Surgiram importantes pensadores como Karl Marx e Sigmund Freud que, embora observassem o homem e a sociedade sob enfoques diferentes, tentaram apresentar novas possibilidades de explicação para o comportamento humano. Marx, com seu discurso sobre a economia, tentava mostrar a existência da exploração do homem pelo homem nas relações de produção; já Freud, com sua teoria sobre o inconsciente, aponta para a necessidade de se pensar na história de vida do indivíduo e não apenas na objetividade e generalização dos conceitos que a ciência vinha pregando (a reflexão citada anteriormente). Essas duas tendências acabam por orientar as discussões entre estudiosos assim como induzir a sociedade dessa época a uma tensão gerada pela dificuldade de conciliar o Economicismo (tendência a pensar o mundo através da economia) e o Humanismo, como a busca de uma ética para a ciência.
Vivemos em nosso tempo, segundo os próprios filósofos, uma crise ética. O momento é de culminância do desconforto sentido pelo homem, que se sente formado numa condição de produção e de consumo em que há muito tempo se perdeu. Ele conseguiu evoluir tanto tecnologicamente, mas perdeu a relação com o lado humano das relações.
O homem se prende aos ideais materiais e mais imediatos, esquecendo o "ao longo prazo". Enriquecer a qualquer custo, não importa como. Substitui seus pensamentos, por outros mais práticos, já estabelecidos.
Ao que tudo indica, o homem tende à busca da utilização dos avanços da tecnologia, da ciência, de forma que não impeçam a relação com as características e os sentimentos que o tornam verdadeiramente humano, que o distanciam da semelhança com máquinas de pensar.
Clarice Lispector é uma escritora que põe em tensão a cena do Realismo-Naturalismo e a do Romantismo-Simbolismo, criando um entrelaçamento significativo entre a realidade e a "realidade adivinhada" Sua obra, A hora da Estrela, sublinha a precaridade e o nomadismo da consciência e da existência, entre as aleluias e as agonias de ser.
Fragmentos e comentários:
"É que a esta história falta melodia cantabile. O seu ritmo é às vezes descompassado. E tem fatos. Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura – fatos são pedras duras e agir está me interessando mais do que pensar, de fatos não há como fugir."
O mundo consiste de fatos. O mundo "é a totalidade de fatos, não de coisas" explica Tractatus (livro publicado pelo filósofo austríaco Ludwiger Wittgenstein). "Fatos"são afirmações verdadeiras sobre coisas. O "mundo" como conhecemos é simplesmente a reunião de fatos conhecidos e não de coisas distintas daquilo que podemos dizer sobre elas. O que não podemos dizer, não podemos conhecer; "sobre o que não conseguimos falar, devemos silenciar". Por isso, não chegamos a conclusões sobre a Morte, Deus, e outros assuntos obscuros. Quem nunca parou para pensar em como as coisas surgiram, ou porquê são assim? Por incrível que pareça, muita gente nunca pensou. Aí surge o questionamento de se questionar. Uma dúvida atrás da outra, que não pode ser respondida, ou pelo menos no momento. O tempo pode deixar as coisas mais claras, coisa que a ansiedade não reproduz muito bem. Afinal, voltamos ao início...questionar-se ou não? Cabe somente a você esta escolha. O problema é quando a realidade influencia sua escolha, alterando o seu modo próprio de pensamento.
No fragmento citado, o narrador (que não é o autor) declara que está mais interessado no momento de viver, e não na reflexão que este o gera. Não quer perder seu momento pensando, mas os fatos à atraem, porque são pedras duras, difíceis de se traduzir. Um desafio.
"Mas não vou enfeitar a palavra pois se eu tocar no pão da moça esse pão se tornará em ouro – e a jovem (ela tem dezenove anos) não poderia mordê-lo, morrendo de fome"
Wittgenstein também afirma: "os limites da linguagem são os limites do meu mundo". Ele trata a linguagem como indicadores ou símbolos das coisas do mundo. Isso ainda era muito simplista. Mais tarde, oferece um novo ponto de vista: "o significado das palavras não depende daquilo a que elas se referem, mas de como elas são usadas". Isto é, a linguagem é um conjunto de peças (palavras) que são usadas de acordo com um conjunto de regras (convenções linguísticas). O conhecimento não consiste em descobrir alguma "realidade" que corresponda ao que falamos, mas sim em estudar o modo como a fala funciona.
O narrador utiliza-se da fala para retratar a realidade de uma moça pobre. Fala simples para captar sua delicada e vaga existência. A personagem não sabe o que é existir. Vive e acha que é feliz, porque não sabe que é triste.
"Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de se perguntar "que sou eu?" cairia estatelada e em cheio no chão. É que "quem sou eu " provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto"
Muitos de nós somos incompletos por não sabermos responder às perguntas que fazemos a nós mesmos, por mais simples que sejam. E realmente gera uma necessidade de descobrir aquilo questionado, mas quando não conseguimos, provoca uma sensação de incapacidade e inferioridade. Um vazio interior, dizendo em outras palavras, por não nos julgarmos capazes. Nem tudo somos capazes, mas o mundo contemporâneo que vivemos, nos obriga a tentar ser. É muita competição, é muita cobrança é muito tudo. E às vezes o tudo cansa. Eu, você, as pessoas se esgotam por tentar alcançar um objetivo imposto por você mesma ou pelos outros. E quando você o alcança, acaba ferindo alguém porque conseguiu.
Um exemplo bem prático: Uma garotinha adora dançar ballet. Ela se esquece de tudo quando dança, nem lembra que está perdendo sua tarde inteira e deixando um resto de afazeres a terminar. Ela dança e se desliga do mundo exterior, trata-se apenas dela e de seus movimentos. Próxima de uma apresentação, a menina se esforça como jamais havia feito, queria realmente dar o melhor de si. Porém, não se sabe a causa, talvez o nervosismo, ela não se sai tão bem, errando os passos que jamais errara nos ensaios. A expectativa criada na hora da premiação é grande. Sabe que não foi bem, mas ainda resta uma esperança, quem sabe o árbitro não reparou em seus erros. Porém, impera a decepção quando seu nome não é anunciado. Tudo vai por água abaixo, tudo fora em vão, e ela não deveria ao menos Ter tentado.
Essa simples historia retrata como o objetivo imposto é doloroso se não alcançado. A menina esqueceu-se de quanto ama dançar. Esqueceu-se de quantas horas gostosas viveu fazendo aquilo que realmente gosta. Quem sabe a vida existe para ser vivida mesmo, sem exigir. Pode ser, mas isto só seria possível se todos vivessem em situações equivalentes e sem injustiças. Até consertarmos esses problemas (espero eu que se consertem), devemos refletir para percebemos o que está errado. E na verdade, esse "errado" é uma denominação da invasão, do desrespeito ao próximo com o excesso de nossa liberdade. Só poderemos não exigir, quando não houver diferenças, quando o menos favorecido não quiser se igualar aquele que se encontra a um patamar mais elevado, pois ambos estarão no mesmo degrau, e se tiverem que subir, haverá de ser juntos.
O materialismo contribui para essa desigualdade, que consequentemente molda nossos pensamentos e objetivos.
Pelo fato de ser consciente das causas que inspiram minhas ações, estas causas já são transcendentes para minha consciência. Escapo delas pela minha existência. O homem percebendo a situação que se criou pelo desejo de enriquecer, pode mudar seu consciente ou o seu inconsciente de que ele mesmo é consciente que possui. Somos livres para perceber, mas não somos livres para deixar de sermos livres.
Qualquer pessoa é livre para fazer o que quiser (liberdade positiva) e esta geralmente é livre de ser perseguido por suas idéias (liberdade negativa). A verdade positiva envolve escolhas; liberdade negativa e conseqüências. Existe um tipo de liberdade que jamais pode ser tirada de nós, o poder da escolha.
Isso pode ser comprovado por qualquer pessoa. Se você alertar alguém de que ela está fazendo é errado, ela não vai dar o "braço a torcer". Vai comprovar por ela mesma que aquilo é errado. Quantas vezes você já não parou para pensar: "nossa, como me arrependo de Ter feito isso, realmente ele tinha razão". Mas a escolha foi mais forte, e a sua escolha, foi a de tentar, e comprovar de que acertou ou errou.

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