20/06/2006

A CELEBRAÇÃO DE CADA DIA


Comemorar e celebrar são a mesma coisa? Com o passar dos anos e das
gerações, palavras novas vão surgindo, algumas vão caindo em desuso e outras
adquirem novos significados. Penso que este é o caso de celebração, quando
comparada com comemoração, no seu sentido popular.

Comemoração, por exemplo, é interpretada e realizada como festa.
Comemoram-se aniversários da nascimento, de casamento, de fundação, prêmios
obtidos e momentos especiais.

Algumas empresas têm várias e boas razões para comemorar: lançamentos de
novos produtos, metas atingidas ou superadas, prêmios diversos, lucros
extraordinários, inauguração de novas instalações, aquisições ou fusões e
muitos outros motivos.

Em princípio, a celebração teria mais ou menos o mesmo sentido da
comemoração, mas hoje, no jargão organizacional, celebrar passa a ter um
significado mais profundo, mais interativo, menos "festeiro".

Celebrar é compartilhar alegrias e vitórias, sem bandas e fanfarras.
Celebra-se de modo discreto, quase silencioso, mas nem por isso menos
intenso e verdadeiro. Para serem celebradas, não precisam ser grandes as
alegrias e vitórias, até porque estas não têm tamanho, peso nem altura. Ou
são ou não são. Se são, devem ser celebradas.

Você celebra, por exemplo, quando manifesta claramente que reconhece a
importância ou a qualidade de um colega. É preciso que se saiba que há um
significado transcendente em cada gesto de reconhecimento, porque mexe com
intensos sentimentos atávicos do ser humano. Em toda pessoa, há sempre um
componente que merece ser celebrado, basta querermos ver e reconhecer.
Talvez poucas formas de celebração sejam tão poderosas e gratificantes
quanto o reconhecimento por um trabalho bem feito, uma ação meritória ou uma
atitude digna.

Você pode celebrar juntamente com o colega a alegria dele pela entrada na
faculdade, pela compra da primeira casa ou do primeiro carro, pelo
nascimento de um filho, pelo casamento, pela promoção.

Celebração é algo que tem muito mais a ver com o coração do que com a razão,
e pode-se fazê-la apenas com palavras, gestos ou preces, o que não seria
possível numa comemoração, que está mais para festa. Portanto, são coisas
diferentes, mas nem por isso uma é mais ou menos importante que outra.

Uma significativa diferença entre ambas é que as comemorações geralmente têm
data certa para acontecer. As celebrações, não. Podem ocorrer a qualquer
momento, em qualquer dia, basta saber que alguém realizou um sonho, superou
um desafio, ganhou uma nova competência ou está vivenciando algo que o deixa
feliz.

Com um abraço caloroso e sincero, você pode celebrar o encontro diário com o
colega a cada manhã que o encontra no trabalho. As equipes sinérgicas e
coesas costumam permutar celebrações entre seus membros, porque a alegria ou
o sucesso de um é compartilhado com os demais. A base de qualquer modelo de
gestão que pretenda ser um diferencial competitivo está diretamente
condicionada à capacidade dos seus membros em celebrar as alegrias, vitórias
e talentos uns dos outros.

Um elogio, um abraço, um gesto carinhoso ou fraternal, um e-mail de afago,
um presente, um alegre telefonema inesperado... Estes exemplos de celebração
mostram uma particularidade que deveria entusiasmar as empresas a
estimulá-la entre seus colaboradores: pode ser feita a custo praticamente
zero ? o que não se pode dizer em relação às comemorações.

As comemorações agradam ao ego; as celebrações agradam ao espírito. Talvez
por isso as primeiras sejam mais comuns e mais freqüentes nas organizações.
Muitas empresas ainda permitem que seu modelo de gestão de pessoas seja
influenciado e avaliado pela satisfação dos egos dos seus gestores e, nessas
condições, há pouco espaço para celebrações e muitas razões para
comemorações ? ainda que por razões às vezes questionáveis.

Por fim, é importante destacar que, mesmo com tantas diferenças práticas, há
algo em comum e essencial entre comemoração e celebração. Algo tão
fundamental que é quem de fato legitima sua autenticidade: em ambas,
comemoração ou celebração, é absolutamente indispensável a presença do
sorriso que sai do coração.

Sem isso, estaremos falando de outras coisas, menos de celebração e
comemoração.


Floriano Serra é psicólogo, diretor de Recursos Humanos e Qualidade de Vida
da APSEN Farmacêutica e presidente do IPAT - Instituto Paulista de Análise
Transacional

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