I – Introdução
Este trabalho tem por finalidade, a obtenção do conhecimento sobre a evolução do hospital desde os primórdios da Idade Antiga até a época contemporânea. Também, tem como objetivo, despertar no aluno uma visão crítica das estruturas atuais para a melhoria destas e dos sistemas de saúde nos hospitais do futuro.
"teoria é quando se sabe tudo e nada funciona.
Prática é quando tudo funciona e ninguém sabe por quê.
Neste recinto, conjugaram-se teoria e prática:
Nada funciona e ninguém sabe por quê."
II - A palavra Hospital
Há divergências quanto à origem da palavra hospital. Para alguns ela deriva da palavra latina Hospes que significa hóspede. Nisso o hospital seria uma instituição que acolhe alguém.
Segundo Manoel Barquim, hospital é derivada de Hospitium, local onde se mantém alguém hospedado.
Já o dicionário Aurélio a define como:
Hospital [do lat. Hospitale, "hospedaria".] S.m. 1. Estabelecimento onde se internam e tratam doentes; nosocômio.
O hospital por sua vez, foi definido assim pela Organização Mundial da Saúde, no seu Informe Técnico número 122, de 1957: "O hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde cuja função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família em seu domicílio e ainda um centro de informação para os que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas bio-sociais".
A evolução do hospital
III – O hospital na Idade Antiga (período pré-helênico)
A medicina é conhecida há muito mais tempo que os hospitais. Era exercida, porém, na moradia da pessoa doente. Por isso não encontramos na Antigüidade Egípcia e Babilônica nenhum local específico para o tratamento das doenças.
Egito
Um dos únicos locais destinados ao atendimento à saúde na civilização egípcia é o templo de Deir-el-Bahari em Thebes. Lá os pacientes eram consultados pelos sacerdotes de Imhotep, uma divindade que em vida foi médico do rei Djéser- 2800 a.C.
Apesar de não aparecer claramente a existência de verdadeiros hospitais, a medicina egípcia era muito desenvolvida. Os médicos do Egito foram provavelmente, os primeiros a utilizarem drogas como a pimenta hortelã, o óleo de rícino e o ópio, sem falar das técnicas de preservação dos cadáveres.
Um dos hospitais egípcio que podemos identificar, é o Templo de Saturno. A cura, porém, era procurada só pela fé.
Grécia
Os templos gregos podem ser considerados os precursores dos hospitais modernos. Mas não eram exatamente iguais aos hospitais de hoje, havia uma mistura clara entre a medicina, o misticismo e a superstição.
Um desses templos, dedicados a Esculápio, o deus da medicina, foi construído no ano de 1134 a.C. . As ruínas atestam a existência de outros templos semelhantes construídos vários séculos antes de Cristo. Nesses a assistência aos outros doentes era corporal e espiritual. Os ginásios, que abrigavam centenas de pessoas, eram utilizados como locais de terapia, era o templo de Kos, onde nasceu Hipócrates, no ano 400 a.C.
Na antiga Grécia há três tipos de edifícios ligados à saúde: público, privado e religioso.
- Públicos: o Prythaneé e o Cynosarge públicos, laicos e geridos pelo Estado são construções destinadas respectivamente ao tratamento de saúde e aos cuidados com os idosos.
- Privados: era permitido aos médicos estabelecer uma casa – Iatreia- para o abrigo de seus próprios pacientes. Este tipo de construções será mantida no Império Romano, e a versão certamente mais famosa da Iatreia romana é a magnífica "casa do cirurgião" em Pompéia (séc. III ).
- Religioso: nos templos consagrados a Asclepios, deus da medicina, o tratamento era feito a base de abluções (purificação pela água) e jejum. Esses templos eram usualmente localizados fora das cidades, em bosques, e próximos à água corrente, indispensáveis aos abluções. O plano típico tinha as seguintes características: 1. No centro era localizado o templo a Asclepios com uma estátua rodeada por um pórtico sagrado reservado aos sacerdotes. 2. Junto ao templo localizavam-se os tanques para abluções e eventualmente para banhos de vapor como em Pergamo, aonde havia uma complexa estrutura balneária e termal. 3. Em volta do templo localizava-se o pórtico destinado à "incubação" – Enkoimeterion = sono – por vezes com compartimentos fechados como em Cos. Este pórtico era usualmente utilizado para a consulta e era geralmente aberto para o templo e fechado para o exterior.
(Exemplo de um pórtico da antigüidade)
Um dos grandes méritos dos templos hospitais, foi de terem-se transformado em ambientes de ensino para a preparação de médicos não sacerdotes.
3- Roma
A assistência hospitalar chegou em Roma no século V antes de Cristo. Além de ter-se aperfeiçoado na arte de curar, diversificou muito o atendimento. Uma das formas de atuação da medicina, de então, foi transformar as residências dos doentes em mini-hospitais.
A assistência prestadas pelos romanos nos templos, copiou com perfeição o modelo grego. O primeiro templo foi edificado na Ilha Tiberina, em Roma, no ano de 461 a.C.. Foi dedicado a Esculápio. Os doentes eram acomodados em liteiras, ao redor da estátua desse deus.
Como a assistência era totalmente gratuita, atraiu grande quantidade de doentes, providos, inclusive, de locais distantes e que transformaram a ilha num imenso hospital a céu aberto. Os escravos que já não tinha cura, eram transportados para lá.
Devido a natureza dessa atividade que hoje chamaríamos de filantrópico, surgiram, no império romano, numerosos templos com essa características. Existia no Império Romano duas formas muito importantes de arquitetura sanitária, além da interpretação do modelo do templo grego: Valetudinárias e Termas.
Valetudinárias: o Império Romano estabeleceu uma organização com finalidade específica de dar assistência aos legionários e escravos das grandes propriedades agrícolas – dois dos personagens principais da força do Império. Ao longo do Danúbio e do Reno, mas também na França e Grã- Bretanha, as fortificações passaram a substituir as tendas provisórias por abrigos mais adequados e duráveis para funções fixas como eram as Valetudinárias. O plano das fortificações respeitava um layout de formato quadrado dividido em Quatro pela intersecção da via Praetoria com a via Principalis. O plano básico das Valetudinárias era constituído de 4 elementos articulados em torno de um pátio central quadrado ou retangular. Três dos elementos abrigavam abrigavam os compartimentos de aproximadamente 20 m2 . Estes espaços eram dispostos em ambos os lados de um corredor central de distribuição, cuja cobertura permitia ventilação permanente. O quarto elemento localizado junto a entrada abrigava as funções de administração e serviços gerais. A enfermaria romana é o primeiro local onde o paciente pernoita.
Termas: as Termas constituem sem dúvidas uma das instituições mais marcantes da civilização e mundo romano; sua distribuição e organização traduzem o espírito de ordem e organização desta civilização. Os banhos termais romanos compreendem geralmente um grande saguão de acesso, vestiários de ambos os lados, salas de repouso piscina descobertas, salas de banhos diferentes de acordo com a temperatura ( caldarium e frigidarium) e sauna. Ligavam a estas grandes termas estabelecimentos mais simples, orientados para a cura e terapia com o auxílio de fontes termais naturais. A construção adota a forma simétrica típica desta expressão arquitetônica romana. São quatro piscinas organizadas a partir do local de captação da água. Há escadas dando acesso a 2 salas circulares para banhos frios, ligadas cada uma delas a um banho quente. Entre os banhos há uma área comum para sauna. Há acessos aos locais de banho em lados opostos. O aquecimento é obtido através de fornos subterrâneos que aquecem diretamente as piscinas. Além disso, o calor produzido pela combustão nos fornos circula sob o piso das salas e entre as paredes dupla e ainda no forro. Assim, o calor aquece a estrutura e não o ar diretamente proporcionando maior conforto aos usuários.
Os hospitais no início da Era Cristã
O advento do cristianismo trouxe grande incremento às instituições hospitalares. Os apóstolos instituíram, desde o início da pregação do evangelho, as chamadas diaconias. Destinavam-se a acolher e ajudar os órfãos, viúvas, doentes e peregrinos.
As instituições hospitalares propriamente ditas tiveram início com um decreto do Imperador Constantino, durante o Conciliou de Nicéia, em 335. O Concilio preconizou que, em cada cidade, houvesse um local para acolher os peregrinos, doentes e pobres. Surgiram assim os ptochotrophiuns e os xenadochiuns. Os primeiros hospitais desta época são marcados pelos edifícios de Edesse, Cesarée, Roma e Ostia.
Xenodochium de Ostia: a construção mostra a adaptação do pórtico ao esquema basilical adotado pelos primeiros cristãos, foi construído no séc. IV por Pammachius. O conjunto compreende dois elementos justapostos. O hospital respeita a forma quadrada básica da Valetudinária, distribuindo em torno de um atrium central três unidades para hospedagem ligadas a um corredor. O Xenodochium de Ostia é o primeiro testemunho visível da integração do componente religioso à forma hospitalar, elemento fundamental a arquitetura hospitalar durante os próximos 15 séculos.
Xenodochium Bizantino: destinado primordialmente ao abrigo de estrangeiros, essa construção em Tessalonica adota a forma da Valetudinária romana. Curiosamente, o edifício demonstra flexibilidade para ser transformado em um "caravansérail" – abrigo para preparação de caravanas – por ocasião da conquista islâmica em1453
Xenodochium Bizantino
Os hospitais muçulmanos
O modelo hospitalar islâmico é o Bimaristan cuja etimologia vem de "bimar"= pessoa enferma, e "stan"= casa. Parte do complexo sócio cultural mesquita-escola-hospital, o Bimaristan é ainda um local de ensino sob supervisão de um médico responsável.
Além da separação religiosa das áreas para atendimento de homens e mulheres, o edifício segrega os pacientes por grupos de patologias. Provavelmente por influências bizantina, criam-se áreas para atendimento e consultas externas; o dispensário de medicamentos à base de ervas medicinais adota papel importante. Preocupados com a higiene e salubridade, além da divisão dos pacientes por patologias em pavilhões diferentes como no Bimaristan de Bagdad, os muçulmanos estabelecem estratégias para distribuição de água e ventilação dos compartimentos.
Os hospitais militares da antigüidade
Temos conhecimento da existência de hospitais militares desde a antigüidade mais remota. Na Samaria encontraram-se pinturas que revelam a existência hospitalar desde os idos de 2920 a.C.. No Deuteronômio, Moisés fixou regras excelentes para a manutenção da higiene dos militares. Isto há 16 séculos antes de Cristo! Hipócrates afirmava que a guerra é uma excelente escola para os cirurgiões. Escavações próximas ao Danúbio descobriram hospitais militares do primeiro século antes de Cristo. Revelaram, inclusive, que estavam muito bem organizados.
IV- O hospital na Idade Média( séc.V ao XV )
Embora as experiências do Império Bizantino e do Islamismo tenham sido essenciais para o início do processo de amadurecimento da tipologia pavilhonar, no ocidente esta morfologia será ainda preterida. A antiga forma das valetudinárias romanas e enfermarias monásticas será uma vez mais revista e reinterpretada. Entretanto, o aparecimento das Ordens hospitalares no fim do séc. X, terá um papel decisivo para o futuro do saber médico e assistêncial. É provavelmente pela ação, experiência e ensino destas Ordens que as formas de tratamento e a própria arquitetura hospitalar irão evoluir a partir do século XII até o Renascimento. Este período foi marcado pelo surgimento das Ordens religiosas hospitalinas da Igreja Católica, o fenômeno das Cruzadas e a fundação de hospitais por parte de órgão governamentais.
A morfologia básica do hospital medieval é a nave, forma polivalente que reflete o avanço das tecnologias estruturais. Os vão tornam-se cada vez maiores e as condições de iluminação e ventilação dos edifícios melhoram muito. Progressivamente, graças às experiências dos Leprosários, dois fatores novos foram sendo incorporados ao planejamento hospitalar: separação entre as funções de alojamento e logística, e separação dos pacientes por patologias e sexo. As formas de abastecimento de água passam a ser melhor estudadas pois sua importância como fator de melhoria das condições de higiene fica cada vez mais clara.
Entre as instituições religiosas da época, sobressaíram as Ordens dos Crucíferos, Trinidários, Antonianos do Espírito Santo e dos Hospitaleiros de Montepascio. Um acontecimento que propiciou o surgimento de hospitais foram as cruzadas, iniciadas em 1086. As pestes e doenças em geral matavam muitos soldados. Cada frente de cruzados tinha a assistência da Ordem dos Hospitaleiros de São João que implantavam o atendimento aos doentes e feridos ao longo das estradas por onde passava o exército. Em 1099 essa ordem implantou, na Terra Santa, um hospital para atender 2000 pacientes.
Enquanto muitos hospitais da Idade Média eram construídos junto aos mosteiros ou fundados por ordens religiosas hospitaleiras, em algumas cidades, particularmente na Inglaterra, começaram a surgir hospitais municipais. O comércio com o exterior incrementou esse tipo de iniciativa. Algumas construções dessa época foram erigidas com muita pompa e os materiais utilizados eram os melhores disponíveis. A maioria dos hospitais tinha um único pavimento e o formato de cruz. A ventilação era muito precária, pois as janelas, embora até muito decoradas, eram pequenas. A circulação do ar era feita, basicamente por uma abertura no teto.
Foi na Idade Média que surgiram também as Casas de Acolhida para leprosos. Funcionavam como atividade suplementar do hospital. Eram instaladas em estruturas físicas precárias, fora das cidades e representavam mais um papel segregacionista do que um centro de tratamento. Os pacientes eram atendidos por um grupo especial de atendentes, membros da Ordem de São Lázaro. Foram construídos , nesse mesmo período, esses três grandes hospitais em Londres, na Inglaterra: Hospital São Bartolomeu, em 1137, o Hospital Tomas, em 1207 e o Hospital Santa Maria de Belém, em 1247.
O que marcava, porém, os hospitais da Idade Média, era seu caráter profundamente religioso. É dando aos pobres e doentes os meios para que possam curar sua alma, que o fundador rico pretendia salvar a própria. Assim, a internação num hospital não era feita por solicitação médica e sim por recomendação de um confessor. Na grande maioria dos Estatutos Sociais das entidades mantenedoras dos hospitais, recomendava-se que se pusessem este aviso, na entrada do hospital: "Nenhum doente pode ser recebido sem antes ter-se confessado". Os doentes e hóspedes eram cuidados e alimentados por religiosos e religiosas que emitiam os três votos de pobreza, obediência e castidade. O caráter religioso do estabelecimento hospitalar é ainda reforçado pelo próprio título dos Estatutos Sociais: "lugar religioso".
O hospital é arrolado no patrimônio eclesiástico como as igrejas e os colégios, sendo sempre inalienável. Sob a tutela administrativa e religiosa do bispo, o hospital tinha sua atividade administrativa ordinária levada a efeito por um reitor nomeado por ele ou eleito pela assembléia dos religiosos.
No fim da Idade Média, os hospitais começaram a passar do poder eclesiástico para a autoridade municipal e, mais tarde, nacional. Surgiram também na Idade Média, os Lazaretos para a quarentena, mercê das grandes epidemias por que foi assolada.
Os hospitais na Renascença ( séc. XV e XVI )
Foi o período da liberalização e da universalização da assistência hospitalar. O hospital foi sendo considerado como um bem comunitário indispensável e um serviço público por excelência. O hospital foi tido até o século XX, como o estabelecimento básico e primordial para a recuperação da saúde. A municipalização da assistência hospitalar, que foi muito incrementada nesse período, em substituição em grande parte, à "assistência monástica", não inibiu o surgimento de instituições religiosas que contribuíram decisivamente para a transformação do hospital num atendimento de desempenho profissional, técnico, educacional e, sobretudo, assistêncial muito acentuado.
Foi na Espanha que teve início, nesse período, com muita expressão, a arquitetura hospitalar. Foram concebidos, sobretudo, três modelos que se perpetuaram e ainda hoje se encontram em bom estado de conservação. O primeiro era do tipo basilical e consistia num grande edifício de pedra, extensos corredores abobadados, janelas estreitas, tudo circundado por uma galeria e, no fundo, uma capela. O segundo, era do tipo cruciforme. Consistia em duas grandes coxias, de igual tamanho, formando uma cruz grega, com dois pavimentos. No encontro dos braços havia um cruzeiro com o pé direito correspondente a dois pisos, coroado por um grande lampião. Os braços da cruz formavam quatro pátios cujos perímetros se encerravam com coxias nas quais estavam os serviços. A capela era colocada no final do braço da cruz e os pacientes podiam, das próprias camas ou acostando-se à balaustra, assistir aos ofícios religiosos. O terceiro, do tipo palaciano. Consistia num complexo quadrado ou retangular, cujo centro era formado por um ou dois pátios, tendo no fundo uma capela.
São Camilo de Lellis
São Camilo revolucionou a assistência hospitalar. Nascido em Bucchianico, na Itália, em 1550, manteve contato com hospitais em diversas oportunidades. Aos 25 anos ocupou a função de coordenador da assistência do Hospital São Tiago, em Roma. Percebendo que os doentes eram tratadas como objetos e não como pessoas, modificou radicalmente o hospital, conseguindo com que as pessoas internadas fossem colocadas no centro das atenções da instituição. Tudo deveria ser direcionado à assistência aos pacientes.
Notou que as pessoas que trabalhavam no hospital eram mercenários ou criminosos. Não havia nenhum tipo de seleção, formação e apreciação do desempenho do pessoal. Tomou, então duas providências, consideradas indispensáveis, daí para frente para todos os hospitais. Dispensou os que não se enquadravam nas condições mínimas de prestarem uma boa assistência, e selecionou um grupo específico a quem deu informação técnica mais aprimorada, para que a assistência dispensada fosse a mais qualificada possível. Ditou as normas que deveriam ser colocadas em prática por quem presta assistência direta aos pacientes. Foi o precursor de tudo o que é feito, hoje, pela enfermagem, a pastoral da saúde e a atividade dos profissionais médicos.
As Misericórdias
Foi um movimento que iniciou na Idade Média e teve grande desenvolvimento na assistência hospitalar. Um dos motivos que ensejou o surgimento das Misericórdias foi o aparecimento de pestes. Funcionava como uma espécie de fundação, com uma diversidade de atividades, como a coleta de sangue para os hospitais, o transporte de doentes, a distribuição de alimentos aos pobres etc.
V- Os hospitais na Idade Contemporânea
Do século XVI até os dias de hoje, os hospitais sofreram profundas e constantes mudanças, tanto na sua composição arquitetônica, quanto, e, principalmente, na prestação de serviços.
A construção hospitalar teve seu grande desenvolvimento a partir do incêndio do Hotel Dieu, de Paris, em 1722. A Academia de Ciências de Paris foi encarregada de elaborar o programa de reconstrução do hospital. As conclusões a que chegaram os membros da academia, serviram de orientação para quase todas as construções hospitalares, por mais de um século. Uma característica foi os hospitais pavilhonados.
Em 1925, a Enciclopédia Universal Ilustrada, fixou as seguintes condições para a construção de hospitais:
- O hospital deve situar-se fora das cidades, em terreno seco e salubre.
- A área média deve ser de 100 a 150 m2 por leito.
- O pavilhão deve levar em conta a direção dos ventos.
- Cada enfermaria deve ter no máximo, 20 doentes de cirurgia e 30 de clínica médica.
De 1925 para cá os hospitais sofreram mais alterações, sobretudo no que concerne ao número de pisos. Essa inovação teve início nos Estados Unidos, onde foram construídos edifícios hospitalares de até vinte e dois pavimentos.
No início do século XX formaram-se os primeiros sistemas de saúde, destinados a dar cobertura completa à saúde de uma determinada comunidade. As instituições de saúde foram hierarquizadas de acordo com sua complexidade e a entrada no sistema foi fixada para ser feita sempre pela unidade mais simples e mais próxima ao domicílio da pessoa.
A Organização Mundial da Saúde, criada em 1948, através de comissões específicas, disciplina e orienta toda a atividade hospitalar. Em 1957 definiu assim o hospital: "O hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde cuja função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família em seu domicílio e ainda um centro de informação para os que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas bio-sociais". As atividades de enfermagem colaboraram também expressivamente para a alteração e o aperfeiçoamento da assistência prestada pelo hospital.
Hospitais no Brasil
Os hospitais no Brasil surgiram logo após sua descoberta pelos portugueses e seguiram a filosofia e a forma de assistência típicas das Santas Casas de Misericórdia de Portugal.
A primeira Santa Casa de Misericórdia foi fundada em Santos, no Estado de São Paulo por Braz Cubas. A Santa Casa de Santos foi também o 2º hospital das Américas. A segunda Irmandade da Santa Casa de Misericórdia foi na Bahia, fundada por Tomé de Souza, em 1549. Mais tarde surgiu a Santa Casa de Misericórdia de Salvador, com o nome de Hospital Santa Isabel. Por volta de 1606 foi fundada a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por iniciativa de vereadores.
Foi a partir do século XVIII que começaram a surgir, no Brasil, as Reais e Beneméritas Sociedades Portuguesas de Beneficência, por iniciativa da colônia portuguesa e se espalharam por todo o país, sob a forma de entidades filantrópicas. Os imigrantes de outras nações fundaram também seus hospitais. Surgiram, assim os hospitais italianos, japoneses, alemães, sírios, israelitas, espanhóis e ingleses. Hoje são hospitais gerais filantrópicos que atendem a todas as pessoas da comunidade. No início do século XX surgiram os hospitais lucrativos, de propriedade de médicos. A partir de 1960 começaram a surgir os hospitais próprios da medicina de grupos, envolvendo tanto os grupos médicos quanto as cooperativas médicas.
A assistência hospitalar no Brasil afetou sempre profundamente os hospitais, tanto na sua expansão, quanto e, principalmente, no seu desempenho e manutenção. Essa atividade pode ser dividida em três períodos bem delimitados:
Até 1930, a assistência hospitalar era prestada às pessoas em geral sem que ninguém pudesse exigi-la por direito, a não ser que pagasse.
A partir da década de 1930, com o advento dos institutos de previdência, parcela muito expressiva da população passou a gozar do direito da assistência, sem que, para isto, tivesse que pagar.
Em 1988 com a reforma da Constituição Federal e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), toda a população brasileira passou a ter direito à assistência hospitalar, sem nenhum tipo de diferença.
Hospital das Clínicas de São Paulo
VI- Tendências para o Hospital do futuro
Determinar com certeza como será o hospital do futuro é algo difícil, mas os seguintes pontos são fundamentais para a melhoria dos serviços de saúde, deve-se lembrar contudo que estes não são os únicos, são eles:
1. Ética
Não se pode imaginar um hospital do futuro no qual não se pratique a ética. Qualquer empresa em busca da excelência de seus serviços e objetivando o seu processo contínuo e duradouro deve-se ater basicamente a dois princípios:
A preocupação contínua com o bem-estar das pessoas (clientes e funcionários);
A busca incansável da qualidade.
Não existe portanto ética sem qualidade ou qualidade sem ética. São sinônimos que se complementam, se integram e até se confundem. Esses dados são fundamentais para a melhoria do atendimento hospitalar.
2. Qualidade
O futuro de um hospital precisa imperiosamente de qualidade, pois os seus pacientes exigem isto. A estrutura e a organização de um hospital permitem a garantia da qualidade. Quanto melhores forem: a planta física, os equipamentos, a organização, as rotinas previamente estabelecidas, os manuais e regulamentos das atividades médicas, da enfermagem e pessoal administrativo, pressupõe-se que está ocorrendo melhoria da qualidade na assistência do serviço prestado.
Devemos aos japoneses as muitas ferramentas e métodos que podem hoje ser utilizados, inclusive numa organização do serviço de saúde, para diminuir a diferença entre as necessidades do paciente e os desempenhos nos vários processos que acontecem num hospital. As ferramentas que o mais simples colaborador de um hospital deve conhecer, para poder ajudar na melhoria da qualidade de serviços de saúde, são as seguintes:
fluxograma
histograma
diagrama de Pareto
diagrama de causa e efeito
diagrama de dispersão
diagrama de tendência ou de corrida
gráfico de controle
Já em 1972, Shigeru Mizuno concluiu que havia "uma nova era para a qualidade" a fim de os hospitais se mantivessem competitivos. Segundo ele, os hospitais precisavam:
incorporar inovações aos serviços de tal forma que oferecessem valor adicional ou agregado ao paciente, indo além do simples atendimento de suas necessidades (fornecer qualidade atrativa).
Desenvolver a capacidade de realizar negócios dentro de restrições variadas tais como, a responsabilidade civil pelos danos causados por serviços, o problema de custo, a pressão da sociedade exigindo cada vez mais dos hospitais zero erro, zero falha.
3. Trabalho em equipe
Se todos trabalham na mesma direção e sentido, teremos possibilidades muito maiores de alcançar o sucesso. Quem estruturar, num hospital, o verdadeiro trabalho em equipe poderá:
alcançar metas inatingíveis individualmente;
aproveitar melhor todas as suas habilidades;
tomar melhores decisões;
ter maior satisfação com o seu trabalho.
Para trabalhar juntos em equipe, principalmente num hospital, temos de tomar cuidado para evitar o desenvolvimento de situação tipo: "ganha/perde". Elas ocorrem quando integrantes de uma equipe de trabalho possuem pontos de vista diferentes e resolvem que, em vez de tentar chegar a um acordo, devem discutir acirradamente, para que a vontade de cada um prevaleça a todo custo. Se dedicamos tempo para considera os pontos de vista um do outro, poderiam ter achado uma solução com a qual ambos ficassem satisfeitos- uma situação ganha/ganha.
A gerência da tecnologia no serviço de saúde
Cada vez mais os hospitais estão voltados para a tecnologia como veículo que lhe permitirá melhor atingir o principal dos seus objetivos: curar um doente. A gerência de um hospital deve estar sempre atento as novidades dos equipamentos hospitalares, para que possa fornecer o serviço adequado nas varias unidades de saúde.
As tecnologias voltadas para o serviço de saúde podem ser classificadas em quatro grandes categorias:
Tecnologia para o diagnóstico: usadas para a medicação e para os testes.
Tecnologia terapêutica: são utilizadas diretamente para tratar os pacientes.
Tecnologia de sistemas de informação: referem-se àquelas tecnologias que auxiliam a coleta, o armazenamento e a análise de dados para que possa, dessa maneira compor a informação.
Tecnologia de múltiplas finalidades: representam a combinação de duas ou de todas as outras tecnologias. Ex. um monitor cardíaco e uma bomba de infusão acopladas com um computador. Por meio de programação adequada, o diagnóstico é obtido a partir do monitor cardíaco e o programa seleciona automaticamente o curso do tratamento a ser aplicado ao paciente.
Os processos de um hospital não podem ser melhorados antes que sejam compreendidos. Para implantar uma gerência de qualidade, e melhorar os serviços hospitalares, é necessário adaptação e inovação que permita, inclusive, vencer a crise e a burocracia existente principalmente no Brasil. Chegaremos a grandes avanços quando conseguirmos mudar a nossa cultura, e a medicina preventiva for um fato.
Hospital Português
Bibliografia
Cherubin, Niversindo Antônio e Santos, Naírio Augusto- "Administração Hospitalar Fundamentos"- CEDAS, 1997;
Miquelin, Lauro Carlos- "Anatomia dos Edifícios Hospitalares", CEDAS, 1995
Souza Campos, Ernesto- "História e Evolução dos Hospitais".
Sites da Internet
24/12/2010
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