18/04/2011

Que Bíblia comprar?


Johan Konings*
Existem em nosso país muitas traduções da Bíblia. Está ficando difícil comprar uma, não só por causa do preço, mas também porque não se sabe qual escolher. Será que existe apenas uma Bíblia que é a verdadeira?
Devemos ser muito prudentes nessa questão. Em primeiro lugar, as Bíblias em língua portuguesa são traduções, e todo mundo sabe que existem sempre diversas maneiras de traduzir qualquer frase. Além disso, a história dos textos bíblicos está cheia de percalços. Pois se Deus quis se tornar presente em Jesus, desconhecido carpinteiro de Nazaré, ele também permitiu que sua palavra, na Bíblia, sofresse os problemas que atingem todas as realidades humanas. Se Jesus, mesmo sendo Deus, assumiu toda a existência humana, inclusive a morte - menos o pecado - podemos dizer coisa semelhante da Bíblia: em torno dela existe uma série de problemas humanos, que não a impedem, todavia, de ser palavra de Deus.
Devemos levar em consideração sua origem, sua história; em primeiro lugar, a distinção entre a Bíblia judaica e a Bíblia cristã. A judaica contém somente o que nós cristãos chamamos de Antigo Testamento ou Aliança - para os judeus é a única Aliança de Deus, a que ele firmou com o povo de Israel. O Novo Testamento é a parte que se refere a Jesus, o qual, como Messias, veio restaurar a Aliança desrespeitada pelos homens; ele fundou a Nova Aliança em sua morte por amor; mas os que são simplesmente judeus não aceitam isso. Mesmo assim, a Bíblia judaica tem valor para nós: ela eqüivale ao Antigo Testamento, que Jesus renovou e levou à plenitude. Os escritos que falam de Jesus chama-se, por isso, Novo Testamento juntos constituem a Bíblia cristã.
Ora, mesmo entre as Bíblias cristãs existem diferenças. Os protestantes, ou evangélicos, têm em sua Bíblia sete livros a menos que os católicos. Isso porque no Antigo Testamento eles incluem apenas os livros que constam da Bíblia judaica em língua hebraica, enquanto os católicos seguem, para o Antigo Testamento, a lista dos livros da antiga tradução grega, feita pelos judeus antes de Cristo. Essa tradução, feita pelos judeus do Egito a partir dos anos 250 a.C., continha alguns livros que não eram usados ou lidos pelos judeus da Palestina, que liam a Bíblia na língua original, o hebraico. Trata-se dos livros Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Judite e Tobias. Ora, como muitos dos primeiros cristãos eram judeus de língua grega (Paulo, Estêvão, etc.), foi o uso da Bíblia grega que se impôs entre os cristãos. Mas quinze séculos depois, no tempo de Lutero, os Reformadores (protestantes) achavam que "voltar às fontes bíblicas" significava voltar ao uso hebraico e, por isso, incluíram no Antigo Testamento apenas os livros da Bíblia hebraica, conforme o uso das sinagogas da Palestina. Os sete livros que os católicos têm a mais são chamados "deuterocanônicos" pelos católicos (entram no cânon ou lista das Escrituras num segundo momento), mas muitos protestantes os chamam de apócrifos ("escondidos"), embora esse termo tenha um sentido muito mais amplo.
É importante saber que as Bíblias protestantes não são falsas, mas são incompletas para um católico. Quem gostaria de que em sua Bíblia faltassem Tobias ou Sabedoria, por exemplo?
Dito isso, podemos apresentar a lista das boas Bíblias existentes hoje no Brasil.
Temos, em primeiro lugar, as Bíblicas católicas: Bíblia Sagrada, tradução de matos Soares, feita com base na tradução latina de São Jerônimo (Ed. Paulus); Bíblia Sagrada, da Editora Ave Maria, baseada numa tradução francesa já um pouco antiga; Bíblia, co-edição das Editoras Vozes e Santuário (reproduzida também pela SVD), traduzida diretamente dos originais para o português do Brasil; Bíblia Mensagem de Deus, traduzida diretamente dos originais para o português pela Liga de Estudos Bíblicos e publicada por Edições Loyola; Bíblia de Jerusalém, muito completa, com base na edição científica francesa de École Biblique de Jérusalem (Ed. Paulus); Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, seguindo a mesma linha que a anterior, porem numa linguagem bem mais acessível (Ed. Paulus).
Existem as Bíblias ecumênicas, que recebem também a recomendação expressa do episcopado católico: A Bíblia na linguagem de hoje (Ed. Sociedade Bíblica Brasileira), que aguarda, todavia, nova edição com os "deuterocanônicos"; Bíblia, Tradução Ecumênica (TEB), mundialmente reconhecida como a melhor tradução ecumênica, trazendo primeiro os livros do Antigo Testamento na ordem da Bíblia judaica, depois os "deuterocanônicos" e, finalmente, o Novo Testamento. A TEB, editada por Edições Loyola, é uma edição completa, com amplo material de estudo ou edição com notas reduzidas. A Bíblia "padrão" dos evangélicos é tradução portuguesa de J. Ferreira de Almeida, muito boa, mas um tanto rígida e desprovida dos "deuterocanônicos" (Sociedade Bíblica Brasileira).

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