08/07/2007


A arte de dominar idéias

por Reinaldo Passadori


Problemas na comunicação podem gerar um monstro, que precisa ser domado aqualquer custo, para o pleno sucesso de colaboradores e organizaçõesVendas perdidas, negociações mal sucedidas, treinamentos ineficientes,discursos sonolentos e mal elaborados -des-perdiçando o tempo das pessoas-,discussões, boicotes, brigas e desentendimentos entre as pessoas de um modogeral, quer seja em relações profissionais, familiares ou sociais.O mundo como um todo seria muito melhor se as pessoas conseguissem secomunicar melhor. Sem perceber, muitos dos problemas comuns que ocorrem nasrelações interpessoais acontecem justamente por problemas de comunicação.Antes de falar sobre esses problemas, quero propor uma reflexão sobre umapremissa básica no processo da comunicação: a comunicação não é o que eufalo; é aquilo que chega.Somos, por excelência, exímios interpretadores de tudo o que acontece. Fazparte da natureza humana, tanto que avaliamos, ponderamos, julgamos,comparamos com a nossa escala de valores tudo o que percebemos, vemos eouvimos. Gostamos ou não gostamos, achamos simpático ou antipático,consideramos agradável ou desagradável, interessante ou indiferente. Fazemosisso o tempo todo.Por essa razão, se desejamos de fato nos comunicar com outras pessoasprecisamos, constantemente, exercitar a arte da empatia, que é a capacidadede nos colocar no lugar da outra pessoa, entender o seu estado de espírito,seu momento psicológico, seu nível cultural, suas crenças, seus apelosemocionais. Além disso, precisamos resolver os nossos problemas decomunicação e, posso afirmar com segurança, que são muitos.Apresentarei de maneira resumida os problemas mais comuns que coletamos aolongo de 15 anos ajudando as pessoas a resolverem as suas dificuldades decomunicação e a proposta é gerar um questionamento para que você possa fazeruma auto-análise e ao identificar-se com alguns desses problemas, possaprocurar algum tipo de solução, pois se existirem poderão impedir uma melhordesenvoltura no cenário pessoal e profissional.Para facilitar a auto-análise, apresentaremos esses problemas subdivididosem três blocos distintos, a saber: a) psicológicos; b) físicos e c)técnicos.a) PsicológicosMedoMedo de tudo, de ser mal sucedido, de errar, de não ser compreendido, defalhar, de não conseguir dar o recado, de denegrir a sua própria imagem, dedar a dor de barriga que você teve há 10 anos, enfim muitos medos. Seanalisarmos bem, na verdade, não vamos encontrar muitas razões para essesmedos, pois na maioria são imaginários e não reais. O principal medo, noentanto, que pode ser uma síntese de todos esses, é o "Medo de falar empúblico".Excesso de preocupaçãoAlgumas pessoas são preocupadas demais. Existe um lado positivo napreocupação relacionado à preparação, ao planejamento, à organização do queiremos realizar. Só que temos uma voz interior e se não a soubermoscontrolar, nos perdemos. Essa voz começa a perguntar assim: E se eu falhar?E se perguntarem algo que eu não sei? E se entrar o diretor enquanto euestiver falando? O interessante é que as respostas a essas perguntas tendema ser negativas, gerando um pessimismo e neutralizando as forças de energiapositiva e de entusiasmo, minando as resistências da pessoa, gerando umagrande possibilidade de fracasso.Baixa auto-estimaHá um pensamento muito famoso, atribuído a Henri Ford, que diz: "Se vocêacha que pode ou se acha que não pode, em ambos os casos você está certo".Em outras palavras, se você acredita no sucesso do seu esforço ou seacredita no insucesso, em ambos os casos você também está certo. Podemosoptar em sermos otimistas ou em sermos pessimistas e até essa atitude dianteda vida ou das situações pode ser treinada e desenvolvida. A natureza, nasua complexidade e, ao mesmo tempo simplicidade nos dá uma grande liçãoquando nos mostra que colhemos aquilo que plantamos, ou seja, um pessimistairá falar mal de si mesmo, denegrindo a sua própria imagem, evidenciando asua impotência e a sua incapacidade. É óbvio que colherá dó e pena daspessoas. Por outro lado, uma pessoa de bem com a vida e consigo mesma,entusiasta e otimista, irá irradiar uma energia positiva e atrairá para siaquilo que plantou, ou seja, estímulos positivos, energia boa, pessoas quefuncionam nessa mesma faixa de freqüência.b) FísicosVoz fracaVolume baixo, onde a voz é quase inaudível.LinearidadeA fala mantém um tom monocórdio, gerando sonolência e desatenção daspessoas.Dicção ruimDificuldade de pronúncia, onde os sons não são claros e a compreensão ficaprejudicada.Velocidade excessivaA pessoa atropela as palavras, além de dificultar o entendimento das idéias.Velocidade lentaTalvez pior ainda do que a velocidade acelerada. Ficamos impacientes,querendo ajudar a pessoa que está falando, também gerando desinteresse.Ausência de teatralizaçãoOu seja, a pessoa que fala nada expressa além do conteúdo e sabemos que tãoou mais importante do que o conteúdo é a forma de falar. Um bom exemplodisso é a pessoa falando algo alegre com uma voz triste ou melancólica.NasalaçãoOnde os sons são excessivamente anasalados, tornando feia a fala.Ausência de pausasAs pausas servem para facilitar a compreensão do ouvinte, dar belezaestética e também para que o apresentador possa melhor concatenar as suasidéias. A ausência de pausas torna a fala inadequada e distrai a atenção dosouvintes.Ausência de gestosAlgumas pessoas colocam as mãos atrás ou na frente do corpo ou ainda nacintura (tipo açucareiro), cruzam os braços ou enfiam as mãos nos bolsos enão fazem gestos. Uma gesticulação adequada reforça o conteúdo da fala.Postura inadequadaPensando na posição dos pés, podemos fazer uma analogia com o relógio.Existe a posição "quinze para o meio dia", "meio dia e quinze" e "dez paraas duas". São inadequadas, desviam a atenção dos ouvintes e geram certadeselegância.Olhar perdidoHá aqueles que olham para cima ou para baixo ou apenas para algumas pessoas.O ideal é que se olhe nos olhos das pessoas, envolvendo-as plenamente.Aparência deseleganteUm toque de classe, de sensibilidade, de bom senso e de bom gosto nunca édemais. Só que algumas pessoas exageram no contrário, ou seja, são relaxadasmesmo, desde uma roupa suja ou um sapato sem graxa e malcuidado até desleixoem detalhes de asseio e aparência corporal.c) TécnicosDesorganização de idéiasToda apresentação deve ter uma estrutura, ou seja, um objetivo, um começo,um meio e um fim. Há pessoas que começam pelo meio, terminam pelo começo edesenvolvem aquilo que deveriam deixar para o final. É necessário aprender edesenvolver apresentações estruturadas e organizadas.Vícios de linguagemOu seja, excesso de "nés", "tás", "certos", "percebes", "aaaa...", "eee...".A audiência fica contando quantos desses vícios ocorreram e deixa de prestaratenção no conteúdo da fala.Dificuldade de vocabulárioÉ até comum a pessoa querer dizer alguma coisa, ela tem a idéia na cabeça,mas não consegue encontrar rapidamente a palavra para externar essepensamento.Inadequação no uso de Recursos AudiovisuaisTransparências ou lâminas excessivamente carregadas, muitas informações deuma só vez, cores e contrastes de mau gosto, ilegibilidade, falta de clarezaou adequação em relação ao conteúdo.Em síntese, essas são as dificuldades mais comuns que temos observado emsala de treinamento. Além destas, inúmeros outros pequenos problemas, desdeprolixidade, excessiva objetividade, postura arrogante ou prepotente ou, aocontrário, humilde demais.O que julgo importante, ao fazer uma análise sobre os problemas decomunicação, é que a parte mais difícil é justamente a descoberta destesproblemas, pois a solução é relativamente simples, dependendo apenas dedestreza experimental e orientação adequada. Descubra, portanto, quais sãoas suas dificuldades de comunicação, invista na sua solução e esteja certode que sua vida será bem melhor.

O autor é presidente do Instituto Passadori e especialista em Comunicação

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